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23 de Abril de 2024
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    Defensoria Pública oferece atendimento em Libras para assistidos; leia depoimento de servidor

    há 7 anos

    A coordenadoria de Direitos Humanos da Defensoria Pública realizou um atendimento inédito dentro do órgão nesta quarta-feira (19). O assistido Luiz Lima Pinheiro, que é surdo-mudo, procurou o atendimento da Instituição par realizar uma partilha de bens após uma separação com sua antiga companheira.

    Ocorre que pela dificuldade de comunicação, Luiz não conseguia ser entendido em nenhum órgão pelo qual passou.

    Chegando na coordenadoria de Direitos Humanos da Defensoria, foi atendido pelo servidor Jairo Francisco do Carmo, que atua como assistente administrativo no órgão e cursa a faculdade de Licenciatura Plena em Letras-Líbras (Língua Brasileira de Sinais) na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

    De acordo com o Defensor, Jairo prontamente se dispôs a traduzir o relato do assistido, que narrou seu caso na linguagem de sinais enquanto a história era reduzida a termo.

    O coordenador de Direitos Humanos da Defensoria, Roberto Tadeu Vaz Curvo, explicou a importância deste tipo de atendimento.

    "Foi inédito para nós, e a Defensoria passa agora a atender pessoas que tenham essa dificuldade de comunicação convencional, cumprindo seu papel em todas as situações. Nosso servidor soube que sua qualificação seria melhor aproveitada dentro da coordenadoria, motivo pelo qual o recebemos com grande alegria”, disse.

    O assistente administrativo, lotado no órgão especializado da Defensoria há pouco tempo, escreveu um depoimento onde detalha seu interessa pela Líbras e como tem buscado explorar sua qualificação dentro da Instituição. Leia abaixo.

    Paulo Radamés
    Assessoria de Imprensa


    Meu nome é Jairo Francisco do Carmo, tenho 44 anos, há 1 ano exercendo as funções de assistente Administrativo na Defensoria Pública de Mato Grosso.

    Desde muito criança fui interessado pelo que diz respeito a idiomas e comunicação entre pessoas. Sempre desejei aprender novos idiomas, o que não foi possível tendo em vista que sempre morei no interior de Mato Grosso onde não há disponibilidade de cursos nessa área.

    Devo dizer que nessa paixão que sempre nutri por novas linguagens, destacou-se o gosto pela linguagem de sinais utilizada pelas pessoas com deficiência auditiva, que em nosso país é conhecida por Líbras. Sempre considerei o conhecimento de Líbras como algo de muita utilidade com uma conotação bastante humanística, além de considerar algo muito bonito e até mesmo charmoso. Aventurei-me algumas vezes ainda no interior a aprender sozinho, mas logrei pouco êxito, aprendendo apenas o básico, haja vista ser a linguagem de sinais detentora de algumas particularidades que são incompreensíveis a quem é iniciante no assunto.

    Há um ano atrás mudei-me para Cuiabá a fim de tomar posse do concurso da Defensoria Pública de Mato Grosso. E, além de assumir o novo trabalho, um dos meus objetivos aqui também seria dar continuidade aos meus estudos, especialmente na aprendizagem de novos idiomas. Pesquisando sobre as possibilidades de fazer algum curso que me interessasse, descobri rapidamente que na UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) existe um curso em nível de graduação na área de Líbras. Fiquei maravilhado, pois vi a oportunidade de fazer algo que sempre desejei.

    Ainda nessa mesma época iniciei minhas atividades dentro da Defensoria no Núcleo de Atendimento ao Público e Propositura de Iniciais. Lá pude perceber frequentemente a presença de pessoas com deficiência auditiva que procuram orientação jurídica. Sempre me dispus em dar atendimento a essas pessoas da melhor forma possível, entretanto com muita dificuldade, haja vista meu pouco conhecimento sobre a língua de sinais. Vi então que fazer o curso de Líbras na UFMT teria um duplo significado e importância; seria uma forma de unir o útil ao agradável. Eu estaria realizando um desejo pessoal e ao mesmo tempo contribuiria para a melhoria na prestação dos serviços da instituição para a qual trabalho.

    Atentei-me para a publicação do edital do vestibular o que veio a ocorrer no final de abril de 2017. Fiz minha inscrição, prestei o exame vestibular no inicio de junho e para minha satisfação fui aprovado em primeiro lugar.

    Matriculei-me imediatamente. Mas havia um entrave a ser transposto no que diz respeito à conciliação do estudo na universidade com o meu trabalho na Defensoria. O curso na UFMT é oferecido apenas no período vespertino exatamente no mesmo período em que exerço minhas atividades na Defensoria. Sabedor de que o Núcleo de Direitos Humanos presta atendimento ao público no período matutino vislumbrei que a minha remoção para o referido núcleo seria a solução para que eu pudesse conciliar o trabalho com o estudo. Solicitei à Defensoria-Geral a tal remoção com a anuência dos coordenadores do núcleo onde eu estava lotado bem como do coordenador do Núcleo de Direitos Humanos. Após o pedido ter sido deferido, iniciei meu trabalho no Núcleo de Direitos Humanos. Meu expediente começa às 7h, ficando ali até às 13h. Saindo dali já vou diretamente à UFMT onde inicio as aulas ás 13h30min.

    Tem sido bastante corrida minha rotina diária. Transcorro o dia indo de um lado para outro com o tempo milimetricamente cronometrado. Ainda faço outro curso em outra universidade no período noturno e dessa forma saio de minha casa às 6h e retorno por volta das 23h. Mas o cansaço é compensado pela satisfação de ver-me fazendo algo que me agrada e que é de grande utilidade para a sociedade em geral e também para o exercício das minhas funções profissionais.

    Recentemente tive a grata satisfação de atender um deficiente auditivo em meu trabalho e posso dizer que foi uma experiência gratificante e edificante em todos os aspectos. Com alguns conhecimentos que já adquiri no curso que ora faço, tive maior facilidade em comunicar-me com a pessoa que estava à minha frente. O assunto da pessoa era bastante longo e um pouco complexo envolvendo diversos fatos e pessoas, o que enseja o conhecimento de diversos sinais. Muitos sinais feitos pelo assistido eu desconhecia até aquele momento, mas quando me via diante dessa situação, procurava perguntar através de outros sinais o significado daquele desconhecido e que o assistido explicasse por o assunto através de outros sinais. Ao término consegui decifrar com precisão qual a necessidade do assistido e o que ele desejava da Defensoria. Tratava-se da divisão de bens que ele adquiriu na constância da convivência da união.

    Ao término do atendimento, pude perceber a satisfação ao assistido em ter sido orientado de forma que pode entender. Agradeceu-me com bastante simpatia e disse que seria ótimo se em todos os lugares houvesse alguém com conhecimento para comunicar com pessoas surdas.

    Assim vi-me satisfeito em poder através dos meus ainda poucos conhecimentos oferecer à população carente um atendimento de melhor qualidade e que corrobora com um dos princípios da instituição para a qual trabalho que é o atendimento eficiente às pessoas carentes e que vai ao encontro do princípio da inclusão social.

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